A foliculite decalvante é a alopecia inflamatória caracterizada pelo aparecimento de pápulas e pústulas perifoliculares, com induração de couro cabeludo, envolvendo sobretudo vértice e região occipital, sendo mais comum no sexo masculino. Para casos de massas queloidianas de grande extensão provenientes da patologia, preconiza-se a excisão cirúrgica e cicatrização por segunda intenção.1,2 É postulado que tal medida produz maior ventilação e diminui a colonização microbiana local, prevenindo posteriormente a formação de novas lesões.2 Para otimizar o processo cicatricial, pode-se utilizar como tratamento adjuvante a oxigenoterapia hiperbárica (OHB), que consiste na administração de oxigênio puro em um ambiente de alta pressão, promovendo maior dissolução de oxigênio no plasma sanguíneo com aumento da perfusão sanguínea, redução de sinais inflamatórios, maior angiogênese e produção de colágeno.3 Como cobertura da lesão, uma opção é a gaze impregnada com Polihexametileno de Biguanida (PHMB), pois possui amplo expectro de ação contra bactérias, atuando na prevenção e no combate à infecções, além de excelente manejo do exsudato, sendo indicada para feridas cavitárias, ulcerativas e com grande volume de exsudato, entre outras indicações.4 Logo, de maneira conjunta, tais intervenções efetivas podem ser utilizadas no tratamento de quadros complexos como o da foliculite decalvante.
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Este relato de caso foi estruturado com base no CARE case report guideline e realizado por revisão de prontuário, entrevista com o paciente e registro fotográfico da lesão ao longo do tratamento, as informações coletadas foram consentidas pelo paciente através de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 5
Resultados: Paciente masculino, 40 anos, obeso, sem alergias medicamentosas, admitido pelo serviço de integridade cutânea e prevenção de agravos com história de foliculite decalvante extensa em couro cabeludo há 6 anos, evoluindo com piora progressiva, sobretudo nos últimos 3 anos, com exacerbação dos nódulos inflamatórios com posterior alopecia cicatricial, necessitando desbridamento cirúrgico 6 dias antes da admissão. Paciente relata resultado negativo para câncer em material biopsiado durante o procedimento. Durante primeira avaliação com equipe multidisciplinar, o mesmo apresentou lesão grave de grande extensão em couro cabeludo com leito fibrinoso e biofilme impregnado, de exsudato serossanguinolento em grande volume, odor fétido, com bordas maceradas e perilesão fragilizada. Equipe de enfermagem iniciou curativo de alginato com prata devido sua ação antimicrobiana e manejo do exsudato, sendo substituído por gaze impregnada com PHMB após uma semana, mantendo o potencial antimicrobiano e manejo da secreção, devido a dor durante manipulação de curativo a base de alginato. Médica infectologista da equipe receitou amoxicilina com clavulanato por 14 dias para controle de infecções e realizou encaminhamento para OHB adjuvante, iniciada no 39° dia de tratamento (DT) em sessões de 90 minutos sob pressão de 2,5 atmosferas absolutas (ATA) devido seu benefício multifatorial, como a redução do processo inflamatório e combate a microrganismos, buscando abreviar o tempo de cicatrização e evitar complicações. No período de início das sessões paciente apresentou melhora significativa da lesão, com redução de dimensões, leito totalmente granulado, biofilme impregnado, além de exsudação serossanguinolenta de odor característico e bordas mal delimitadas. Ademais, a utilização de antibióticos foi constante durante o tratamento, sendo novamente prescrito por médica infectologista amoxicilina com clavulanato por 10 dias após o término do período anterior de uso anterior do antibiótico, além da prescrição por médica clínica de cefadroxila por 7 dias no mês subsequente. Paciente evoluiu rapidamente com a OHB, com um total de 16 sessões, e com os curativos especiais, recebendo alta no 107º DT após apresentar lesão totalmente epitelizada, sem retorno de secreção e sem necessidade de oclusão.